O cérebro sob ataque climático

A ciência aponta que temperaturas elevadas mexem na química cerebral, comprometendo funções cognitivas e emocionais, ampliando irritabilidade, depressão e até a violência. O calor intenso fragiliza a barreira hematoencefálica, abrindo caminho para toxinas e vírus, como o Zika e a dengue, afetarem o sistema nervoso. 

Por Camilly Oliveira

O aquecimento global deixou de ser pauta ambiental para se tornar ameaça direta até a forma como os cérebros funcionam. No Brasil, ondas de calor ganham duração e intensidade inéditas, e os impactos vão muito além do suor. 

 


Pesquisas da University College London mostram que o excesso de calor e umidade agrava crises de epilepsia, aumenta casos de AVC (Acidente Vascular Cerebral), acelera doenças neurodegenerativas e altera a neuroplasticidade, que reduz a capacidade de adaptação do cérebro. Dados do Conselho Nacional de Justiça indicam que, durante extremos climáticos, as internações por causas neurológicas disparam. 

 


O perigo não é igual para todos. Idosos, pessoas de baixa renda e pacientes neurológicos já partem em desvantagem. Sem acesso a ambientes climatizados, expostos ao transporte coletivo lotado, milhões de brasileiros enfrentam o calor como mais uma prova de desigualdade.

 


A ciência aponta que temperaturas elevadas mexem na química cerebral, comprometendo funções cognitivas e emocionais, ampliando irritabilidade, depressão e até a violência. O calor intenso fragiliza a barreira hematoencefálica, abrindo caminho para toxinas e vírus, como o Zika e a dengue, afetarem o sistema nervoso. 

 


Isto não é cenário do futuro, é real e já acontece, e de forma desigual. Em um país onde a saúde pública é precária e a desigualdade molda até a forma como se sofre com o calor, a crise climática não apenas aquece o planeta, mas molda, neurônio por neurônio, o que as pessoas serão capazes de pensar, sentir e decidir nas próximas décadas.