Clique que fere a democracia

A violência política digital é um fenômeno sistêmico, organizado e coordenado. Entre os casos mapeados, 71% envolveram morte ou estupro. Em 63% das ameaças de morte houve referência direta ao assassinato de Marielle Franco, um feminicídio político transformado em recado brutal às mulheres que ousam disputar o poder no Brasil.

Por Julia Portela

A violência política digital é um fenômeno sistêmico, organizado e coordenado. Entre os casos mapeados, 71% envolveram morte ou estupro. Em 63% das ameaças de morte houve referência direta ao assassinato de Marielle Franco, um feminicídio político transformado em recado brutal às mulheres que ousam disputar o poder no Brasil.

 


Ainda que muitas vezes tratada como algo “virtual” ou “menor”, a violência digital é reflexo do machismo, do racismo e da LGBTfobia estruturais da sociedade. Os ataques têm objetivo claro: silenciar, deslegitimar e retirar a potência política das mulheres. Quando as ameaças virtuais não são suficientes, o passo seguinte é a violência física.

 


As principais vítimas são mulheres negras cis, trans e travestis, periféricas, defensoras de direitos humanos, parlamentares, candidatas e ativistas. São mulheres que carregam o peso e a força que sustentam o país, mas que continuam invisibilizadas. Cada ataque dirigido a elas é também um ataque à democracia e à luta coletiva por igualdade.

 


A utilização do espaço digital como arma antidemocrática, seja pela disseminação de fake news, seja pela violência direcionada, não pode ser normalizada. É preciso denunciar, resistir e construir redes de proteção e solidariedade.