O calor mata e o lucro continua intocado
As maiores vítimas são as populações pobres e idosas, que vivem em periferias sem acesso a ar-condicionado, sombra ou infraestrutura mínima. Enquanto o capital se protege em ambientes climatizados, quem sustenta o país enfrenta o calor extremo em condições desumanas. As mortes são apenas a face mais visível de uma tragédia social que avança junto à desigualdade.
Por Julia Portela
O agravamento do aquecimento global já cobra vidas na América Latina. Hoje, o calor é responsável por cerca de uma em cada cem mortes na região, e este número pode mais do que dobrar nas próximas duas décadas. O aumento médio da temperatura, previsto entre 1°C e 3°C até 2054, expõe os efeitos diretos de um modelo econômico predatório que ignora os limites da natureza.
As maiores vítimas são as populações pobres e idosas, que vivem em periferias sem acesso a ar-condicionado, sombra ou infraestrutura mínima. Enquanto o capital se protege em ambientes climatizados, quem sustenta o país enfrenta o calor extremo em condições desumanas. As mortes são apenas a face mais visível de uma tragédia social que avança junto à desigualdade.
O desmatamento, a urbanização desenfreada e a exploração sem freios são marcas da lógica ultraliberal que coloca o lucro acima da vida. Essa política de destruição empurra o planeta ao colapso climático, e o preço é pago por quem menos tem. Relatório da Organização Meteorológica Mundial aponta que há 80% de chance de a temperatura média global ultrapassar, ainda nesta década, o limite de 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
Mesmo diante de alertas científicos e catástrofes anunciadas, o capital segue blindado. Os relatórios internacionais não valem quando ameaçam lucros corporativos e interesses privados. O planeta queima, o povo adoece e o sistema continua fingindo que está tudo bem.