Falta de dados mata
Atualmente, cerca de 45 milhões de mortes por ano, quase metade de todos os óbitos no mundo, sequer são notificadas. Essa subnotificação revela o descaso de políticas públicas e a incapacidade de priorizar as verdadeiras necessidades da população. Sem dados confiáveis, não há planejamento, prevenção ou distribuição justa de recursos.
Por Julia Portela
Uma nova campanha lançada durante a Cúpula Mundial da Saúde, em Berlim, escancarou um problema que custa milhões de vidas: a ausência de registros civis e dados vitais confiáveis. O investimento em sistemas de Registro Civil e Estatísticas Vitais (CRVS) é uma questão de sobrevivência, mas continua sendo negligenciado por governos.
Atualmente, cerca de 45 milhões de mortes por ano, quase metade de todos os óbitos no mundo, sequer são notificadas. Essa subnotificação revela o descaso de políticas públicas e a incapacidade de priorizar as verdadeiras necessidades da população. Sem dados confiáveis, não há planejamento, prevenção ou distribuição justa de recursos.
Grande parte das certidões de óbito é incompleta, mesmo quando os dados são coletados, permanecem engavetados ou subutilizados, enquanto milhões continuam morrendo por causas evitáveis. A omissão tem consequência direta: mais de 70% das mortes decorrem de doenças crônicas não transmissíveis, mas apenas 30% do financiamento público em países de baixa e média renda são destinados a enfrentá-las.
A falta de informação não é mero erro técnico, mas sim reflexo de uma lógica que desumaniza vidas e trata estatísticas como números descartáveis. Fortalecer sistemas públicos de registro e análise de dados é romper com esta lógica e afirmar que cada vida importa, sobretudo as que o sistema insiste em invisibilizar.