Sono sequestrado com o pesadelo do desemprego
A falta de descanso adequado afeta a produção de neurotransmissores, como a serotonina, essencial para a sensação de bem-estar.
Por Julia Portela
No Brasil, 65% das pessoas têm dificuldade para dormir, segundo dados da Universidade de São Paulo. O número é reflexo direto de um modelo que adoece.
O avanço da tecnologia, aliado ao endurecimento da agenda ultraliberal travestida de “saudável”, intensifica o controle, a jornada, precariza vínculos de trabalho e coloniza até o tempo de descanso.
Viver se tornou produzir e descansar, privilégio. Nesse cenário, o sono deixa de ser um direito e se torna mais uma vítima da lógica que transforma corpos em máquinas e vidas em mercadoria.
A categoria bancária sabe. A velha teoria de que os problemas do trabalho “ficam no trabalho” não se sustenta e as ameaças são constantes. A “privatização do sono” cresce com a lógica selvagem do “trabalhe até quebrar”. A busca incessante por perfeição em ambientes de trabalho tóxicos tem feito a jornada ultrapassar os limites da razão. O sono e até os sonhos do trabalhador são sequestrados pelo medo do desemprego.
A falta de descanso adequado afeta a produção de neurotransmissores, como a serotonina, essencial para a sensação de bem-estar. Isso ajuda a explicar o aumento de transtornos como ansiedade, burnout e depressão.