Defesa do CLT e a garantia dos trabalhadores

A chamada “glamourização” do empreendedorismo, intensificada nos últimos anos, principalmente após os retrocessos da reforma trabalhista, tem vendido uma falsa ideia de autonomia e sucesso individual.

Por Julia Portela

Uma pesquisa recente do Datafolha revela que 67% dos brasileiros ainda preferem ter carteira assinada. Embora o índice tenha caído dez pontos percentuais desde 2022, a preferência majoritária pelo trabalho formal resiste, mesmo diante do avanço da precarização nas relações de trabalho. O dado escancara a contradição de um país que, ao mesmo tempo em que desmonta direitos, tem sua população clamando por estabilidade e proteção social.

 

 

Essa queda no número de pessoas que optam pela carteira assinada não deve ser lida como uma valorização do trabalho autônomo, mas sim como resultado direto das políticas neoliberais que enfraqueceram os direitos da classe trabalhadora. A reforma trabalhista, imposta sem diálogo com a sociedade, promoveu um ambiente em que os baixos salários, jornadas exaustivas e a insegurança se tornaram norma até mesmo no emprego formal.

 

 

O levantamento também mostra que a preferência pelo trabalho autônomo é mais expressiva entre os jovens de 16 a 24 anos, dos quais 68% optam por essa forma de ocupação. No entanto, é importante destacar que essa escolha muitas vezes não é fruto de liberdade, mas de necessidade: a juventude enfrenta um mercado de trabalho cada vez mais hostil, com poucas oportunidades formais e uma cultura empresarial que valoriza a “flexibilidade” às custas de direitos básicos.

 

 

A chamada “glamourização” do empreendedorismo, intensificada nos últimos anos, principalmente após os retrocessos da reforma trabalhista, tem vendido uma falsa ideia de autonomia e sucesso individual. Na prática, o que se vê é o crescimento da informalidade e da sobrecarga, especialmente entre os mais vulneráveis, sem garantias mínimas como férias, 13º salário ou aposentadoria digna.

 

 

É urgente retomar a luta por empregos com direitos, valorização da CLT e fortalecimento das relações formais de trabalho. Defender a carteira assinada não é nostalgia: é reconhecer que estabilidade, proteção e dignidade no trabalho são pilares de uma sociedade mais justa.