Capitalismo digital destrói mentes

A narrativa de que a digitalização e o avanço tecnológico representam progresso ilimitado ignora o impacto humano do processo.

Por Julia Portela

O setor de tecnologia enfrenta uma crise silenciosa e alarmante: os transtornos mentais já superam as doenças crônicas como principal razão para o consumo de medicamentos entre profissionais da área. Dados da Vidalink revelam que, apenas no primeiro semestre deste ano, 54,58% das compras de remédios realizadas por trabalhadores do setor estavam relacionadas à saúde mental, um retrato claro de um modelo de trabalho que esgota e adoece.

 

 

A narrativa de que a digitalização e o avanço tecnológico representam progresso ilimitado ignora o impacto humano do processo. Sob a lógica do ultraliberalismo, que romantiza jornadas exaustivas, metas inalcançáveis e hiperconectividade, profissionais da tecnologia são empurrados para um ciclo de pressão constante, instabilidade e sofrimento psíquico.

 

 

Ao contrário do que grandes corporações tentam vender com discursos vazios de “bem-estar” e “inovação humanizada”, a realidade mostra que a precarização se espalha muito além dos escritórios modernos e cafés descolados.

 

 

No varejo e na indústria, os efeitos da exploração digital também se multiplicam, demonstrando que a pauta da saúde mental é urgente e estrutural. Tratar o cuidado como benefício secundário ou modismo corporativo não responde à crise.

 

 

Enfrentar este cenário exige políticas reais de proteção ao trabalhador, redução de jornadas abusivas, valorização profissional, ambientes seguros e acolhedores. Saúde mental não é brinde empresarial, é direito, e somente um projeto que priorize gente, e não lucro, pode garantir isto.