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No artigo, o cineasta, diretor teatral, poeta e escritor Carlos Pronzato analisa a suspensão do X (antigo Twitter), a rede social do Elon Musk, feita pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.

Por causa desta letra, a vigésima quarta do alfabeto português, que invadiu o tráfego virtual mundial nos últimos dias, quando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, num ato extremo de afirmação de soberania, suspendeu o X (antigo Twitter), a rede social do Elon Musk, por desrespeitar a legislação brasileira, lembrei de um desses homens essenciais que dedicou a sua vida à luta pelos direitos humanos: Malcolm X.

 


Um homem que enfrentou o aparato político e policial do país mais poderoso do planeta, trocando seu nome de batismo pelo X, e assim o justificou na sua autobiografia: “Para mim, meu X substitui o nome do amo branco que algum diabo de olhos azuis chamado Litlle impôs aos meus antepassados paternos.”. Nascido em 19 de maio de 1925 e assassinado em 21 de fevereiro de 1965, Malcolm Litlle ou El-Hajj Malik El-Shabazz (nome adotado quando ingressou na religião do Islam) este afro-americano de Nebraska marcou toda uma época, influenciando ícones do século XX como Cassius Clay - que mudou seu nome para Muhammad Ali sob o seu influxo - e principalmente a criação dos Black Panters, os Panteras Negras, organização política comunista ligada ao movimento Black Power, Poder Negro, em 1966, um ano após o seu assassinato. 

 


Há muitos anos li a Autobiografia de Malcolm X, escrita por Alex Haley (1921 - 1992), conhecido jornalista e escritor afro-americano, fruto de conversações entre ambos em 1964 e 1965, considerado pela Revista Time, e com toda justiça, como um dos dez livros mais importantes de não ficção do século XX. O processo da escrita consistia em encontros semanais por cerca de duas a três horas entre Malcolm e o jornalista, onde a fala clara e descomplicada do Malcolm atraía os negros das periferias das grandes cidades norte-americanas. O livro acerta em cheio em mostrar o líder afro-americano como o máximo referente do movimento Black Power. Já em 1992, Spike Lee realizou um filme com Denzel Washington no papel de Malcolm X.

 


Ao invés de pregar o integracionismo, como Luther King (1929 - 1968) defendia, o fim dessas barreiras, Malcolm X defendia então a união do povo preto contra o branco, a emancipação financeira das comunidades negras. Mas em 1964 faz uma peregrinação à Meca. Ali percebe que o Islã é composto por pessoas de todas as cores e então desenvolve uma nova percepção racial, que o aproxima do Martin Luther King.

 


Malcolm carrega o X com a dignidade de um homem que marcou a História Mundial. Um tema tão pungente e presente como o racismo mereceria que a mídia hegemônica se voltasse algum dia para o X de Malcom, cujo centenário será no próximo ano, com a mesma abrangência - e apoio - com que se abalançou sobre o X do Musk.

 

 

*Carlos Pronzato é cineasta, diretor teatral, poeta e escritor