O reflexo da privatização ao longo dos anos
No artigo, Almir Leal fala sobre a precarização gradual do banco Bradesco.
Em 1999, quando o governo baiano (gestão Cezar Borges) privatizou o Baneb, entregando o banco de bandeja para o Bradesco, testemunhamos, na sequência, demissões e o fechamento de agências em muitas cidades pequenas, onde o único banco existente era o estatal. Reflita, se hoje com a facilidade que a tecnologia nos trouxe, já é difícil realizar certas operações, imagine há 25 anos. Nosso objetivo é evidenciar o quanto a política do Bradesco foi — e ainda é — prejudicial ao desenvolvimento econômico de diversas cidades do país.
Historicamente, o Bradesco sempre aproveitou todas as oportunidades para se firmar e se manter como o maior banco privado do país, título que os renomados executivos da instituição ostentavam com muito orgulho. (Foi assim até 2009)Entretanto, é preciso lembrar que esse crescimento não foi totalmente orgânico: o banco estreitou relacionamento com cada governo e participou de inúmeros leilões. Somente no Nordeste, arrematou os bancos dos estados da Bahia, Ceará e Maranhão.
Em 2005, por exemplo, segundo matéria da Folha de São Paulo, o Bradesco doou 63 automóveis Ford Focus a cada deputado baiano — um “investimento” de cerca de R$ 3 milhões há 20 anos — para garantir a manutenção das contas da ALBA na instituição (fonte; https://www1.folha.uol.com.br/fsp/brasil/fc1301200514.htm)
Esse fato demonstra que o crescimento do Bradesco no país se deu, principalmente, pelas parcerias construídas com o poder público.
Voltando à privatização do Baneb: todas as sedes de agência incluídas no pacote de aquisição foram leiloadas pelo Bradesco, muitos desses prédios haviam sido doados pelas prefeituras para que o Baneb se instalasse nas cidades.
Já no início dos anos 2000, durante o governo FHC, o Bradesco foi escolhido para gerir o Banco Postal, utilizando toda a estrutura física e mão de obra dos Correios. Os funcionários, que nunca foram reconhecidos como bancários, tinham que abrir contas, fazer empréstimos, receber depósitos e efetuar pagamentos — um verdadeiro “negócio da China” para o banco, que não precisava investir diretamente em infraestrutura. Nesse período, o Bradesco teve um crescimento exponencial, chegando a todos os municípios do Brasil com o discurso de “bancarizar” a população. Só o Banco Postal atendia 11 milhões de clientes, com todas as contas geridas pelo Bradesco, garantindo ao banco a maior capilaridade bancária do país.
Mas como lidar com essa demanda por saques em uma época em que não existia PIX, aplicativos e o acesso à internet era precário no interior do país — e, aliás, ainda é em muitos lugares. A solução foi simples (para o banco, não para os funcionários): o transporte de numerário era feito pelos próprios funcionários do Bradesco, usando carros particulares ou alugados. Houveram inúmeros relatos de assaltos/sequestros de funcionários, mas isso não impediu a prática, pois era mais barato do que contratar carro-forte. Muitos funcionários passavam o dia inteiro transportando dinheiro durante os períodos de pagamento.
A situação piorou em 2009, quando o banco arrematou quatro dos nove lotes da folha de pagamento do INSS, tornando-se o maior órgão pagador do país. Já no final de 2011, com o fim da parceria entre Bradesco e Banco Postal, o banco abriu 1.000 agências em apenas seis meses — aproveitando a base de contas e operações já existente e milhões de beneficiários do INSS para movimentar conta corrente e tomar crédito consignado.
Nesse mesmo período, o Bradesco incentivou prefeituras a leiloar a folha de pagamento dos servidores municipais. Com isso, serviços de arrecadação de impostos municipais , aplicações financeiras e até fundos de previdência municipal passaram a ser geridos pelo banco, fortalecendo ainda mais sua relação com o poder público.
Hoje, após surfar nessa onda altamente lucrativa, o Bradesco se aproveita da distração de muitos, e vem terceirizando mão de obra, pois se antes os funcionários dos correios faziam serviços de bancários, hoje são balconistas de farmácias, caixas de supermercado e lojas de vários segmentos que atuam como correspondente bancário vem assumindo sem perceber o risco do negócio, inclusive transportando numerário, existem correspondentes que recebem suprimento de numerário e por conta própria faz o transporte, o volume ultrapassa R$ 400 mil de forma fracionada em um único dia de pagamento, o comerciante que permite isso coloca sim a vida de um colaborador em risco.
Das 1000 agências que o banco abriu em 2011 hoje restam menos de 100 em todo país, e ao fechar agências o banco vem deixando clientes e funcionários desamparados. Diversas prefeituras que recorreram à justiça, garantiram, por meio de liminar/mandado de segurança, a manutenção de agências abertas em suas cidades. Afinal, a justiça parece que o Bradesco ainda respeita! Parabenizamos todos os prefeitos que tomaram essa iniciativa, dentro desse contexto é importante ressaltar o valoroso trabalho e empenho por conscientização de classe do sindicato dos bancários em especial ao da Bahia, que de fato não defende somente a classe, mas tem comprado a briga com esse gigante também pelos clientes, pela população idosa, por cidades pequenas, pequenos comerciantes e a população vulnerável desse país.