Na confiança de dias melhores

Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), segunda maior do país, com 1.406 sindicatos filiados e 8 milhões de trabalhadores na base, Adilson Araújo sabe que a extrema direita continuará fustigando, mas acredita que o governo Lula vai cumprir a promessa de se guiar pela democracia social, a fim de melhorar a vida do povo brasileiro.

Por Rogaciano Medeiros

 

Presidente da CTB (Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil), segunda maior do país, com 1.406 sindicatos filiados e 8 milhões de trabalhadores na base, Adilson Araújo sabe que a extrema direita continuará fustigando, mas acredita que o governo Lula vai cumprir a promessa de se guiar pela democracia social, a fim de melhorar a vida do povo brasileiro.

 

O Bancário: O que muda no movimento dos trabalhadores com o governo Lula?
Adilson Araújo: A eleição do presidente Lula abre novas perspectivas para se recuperar conquistas indispensáveis à restauração econômica e social do país. Devemos seguir ambicionado pela consecução de um projeto que sinalize a retomada das políticas públicas de geração de emprego e renda, passando pela redução da jornada de trabalho e recuperação da economia. Também são inadiáveis o fortalecimento do SUS, investimentos na ciência, universidades, preservação do meio ambiente, valorização da agricultura familiar e o resgate de programas de assistência social, combate à fome e à miséria. Reclamam urgência a regulamentação e a garantia dos direitos trabalhistas e previdenciários para trabalhadores e trabalhadoras das plataformas digitais.

 

O Bancário: Quais as consequências nocivas para os trabalhadores com os seis anos da agenda ultraliberal, dois com Temer e quatro com Bolsonaro?
AA: A promessa neoliberal propagandeada ao tomar de assalto o mandato constitucional da presidenta Dilma Rousseff era que as contrarreformas serviriam para garantir estabilidade, segurança jurídica e gerar empregos. O discurso serviu apenas para dourar a pílula amarga dos retrocessos. O desemprego cresceu, os investimentos congelaram e a economia estagnou. As medidas resultaram na amplificação da degradação do trabalho, ao mesmo tempo na degradação da economia, com enfraquecimento do mercado interno, recessão e estagnação da produção, com a crescente desindustrialização. Um desastre!

 

O Bancário: Lula se elegeu com o compromisso de retomar a democracia social, o que significa se distanciar do projeto ultraliberal. Dá para confiar?
AA: Não tenho dúvida. Um passo importante foi dado. O presidente Lula assinou decretos que visam aumentar a participação popular no governo. Um dos quais cria o Conselho de Participação Social e o Sistema de Participação Social Interministerial. Jair Bolsonaro deixou um cenário de terra arrasada no meio ambiente, na saúde, na educação, na ciência, na seguridade social, na economia, na política externa, na segurança pública e na democracia. O momento é de sacudir a poeira, derrotar o nazifascismo e dar a volta por cima.

 

O Bancário: Quais as pautas inegociáveis hoje para o movimento sindical?
AA: O golpe de 2016, agravado em 2018 com a eleição de Bolsonaro, impôs uma agenda de retrocessos com perdas de inúmeros direitos. A classe trabalhadora tem sido vítima de uma ofensiva brutal da burguesia. A renda média do trabalho caiu, a perversa reforma trabalhista precarizou e eliminou a ultratividade de acordos e convenções. A política de valorização do salário mínimo foi extinta, direitos trabalhistas e previdenciários foram abolidos. Não bastasse, foi instituído um estúpido teto de gastos que inviabilizou a recuperação da economia, ampliou as desigualdades e congelou os salários dos servidores. A terceirização foi ampliada com a contratação precária, como o trabalho intermitente. Dos sindicatos foi subtraída a principal fonte de financiamento das lutas, a contribuição Sindical. Eu diria que estas questões principais devem ser objeto de uma concertação, até porque, sem resolver a questão do custeio das entidades sindicais teremos muitas dificuldades para defender o nosso projeto e garantir a governabilidade necessária para o governo avançar no caminho do progresso social.

 

O Bancário: Qual a contribuição que a CTB pode dar para sepultar o fascinazismo e consolidar o Estado democrático de direito no Brasil?
AA: O principal nós fizemos, lutamos incansavelmente para o sufrágio de uma estrondosa vitória em 30 de outubro de 2022, a eleição do presidente Lula no segundo turno do pleito mais acirrado da nossa história. Isso tem um significado ímpar para o campo democrático e popular, na medida em que imprimiu uma derrota à barbárie neofascista. Evidente que os atos terroristas registrados no 8 de janeiro nos chamam a atenção para o que disse a presidenta do Supremo, Rosa Weber, no dia 1º de fevereiro, na abertura do Ano Legislativo: “Precisamos defender, diuturna e intransigentemente, a Constituição e o Estado democrático de direito. Sem esquecer de punir, ao rigor da Lei, aqueles que conceberam, praticaram, insuflaram e financiaram os atos antidemocráticos”. 

 

O Bancário: O trabalhador tem motivo para esperar dias melhores?
AA: Elegemos um programa de reconstrução e transformação do Brasil. O ciclo que se inaugura deve destinar especial atenção para a concretização de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento, com democracia, soberania e valorização do trabalho. Penso que a classe trabalhadora está nutrida de esperança, deste modo a concretização destes objetivos vão demandar grande mobilização e unidade das forças democráticas e populares para isolar a extrema direita, criar uma nova correlação de forças e reunir uma ampla frente política e social em apoio às mudanças que a Nação e o povo tanto reivindicam. Como diria o mestre Paulo Freire: “A esperança é revolucionária”. Sigamos juntos irmanados e abraçados à esperança.