Autodiagnostico, novo signo da geração Z
ChatGPT, Google, influencers e vídeos no Riktok viraram fonte de saúde mental. E se o horóscopo do passado dizia que “Mercúrio retrógrado bagunça a mente”, hoje o discurso veste jaleco falso e receita rótulos. Médicos alertam: 83% dos entrevistados pela Medscape apontam riscos diretos neste tipo de prática. A confusão entre autoconhecimento e diagnóstico clínico transforma sofrimento em performance.
Por Camilly Oliveira
Na era do algoritmo, o Feed virou consultório e o transtorno, Trend. Entre vídeos no TikTok, tweets virais e threads no Instagram, diagnósticos brotam mais rápido do que consulta. “Acordei exausta, certeza de que tenho burnout” ou “Sou péssima para conviver em grupo, acho que é meu autismo”. A lógica, que mistura sofrimento real com autoafirmação digital, transforma transtornos sérios em molduras de identidade. Em vez de mapa astral nas revistas adolescentes, agora é laudo imaginário.
Segundo o ICQT, 4 em cada 10 brasileiros usam a internet para se diagnosticar. Em paralelo, 77% se automedicam, revela pesquisa do Datafolha com o Conselho Federal de Farmácia. Entre os mais jovens, o risco é pior. A geração Z cresceu vendo testes online “bombarem”. As buscas por “quiz de ansiedade” saltaram 750% este ano, segundo levantamento Decode/USP. O problema não é só errar o diagnóstico, mas tratar com base nele.
ChatGPT, Google, influencers e vídeos no Riktok viraram fonte de saúde mental. E se o horóscopo do passado dizia que “Mercúrio retrógrado bagunça a mente”, hoje o discurso veste jaleco falso e receita rótulos. Médicos alertam: 83% dos entrevistados pela Medscape apontam riscos diretos neste tipo de prática. A confusão entre autoconhecimento e diagnóstico clínico transforma sofrimento em performance.
A saúde mental virou pauta, e isso é maravilhoso. Mas sem critério, vira apenas um espetáculo. A banalização de transtornos enfraquece o debate, invisibiliza quem realmente precisa de acolhimento e joga a responsabilidade do cuidado nas mãos de quem só tem um celular. O que era para ser alívio, virou mais uma angústia.
A estética do transtorno vende
No TikTok, a hashtag #mentalhealth ultrapassa 100 bilhões de visualizações. Perfis que romantizam o sofrimento, que fazem vídeos sobre “ser funcional mesmo em crise” ou que descrevem o TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade) como um superpoder criativo alimentam um ciclo perigoso: a glamorização do diagnóstico. O sofrimento agora é estética, o algoritmo premia quem se expõe, e o cuidado vira engajamento. A internet lucra com a dor.