Força para explorar, nunca para liderar

É incompetência ou falta de compromisso real com a equidade? Em um país com histórico escravocrata, as marcas desse passado seguem determinando quem lidera e quem serve.

Por Julia Portela

Segundo dados do levantamento Multissetorial da Gestão Kairós, embora as mulheres negras representem 29% da população brasileira, ocupam apenas 3% dos cargos de liderança, do nível de gerência para cima. O número escancara um abismo estrutural que resiste mesmo diante de discursos bonitos sobre equidade, ESG (Ambiental, Social e Governança) e responsabilidade social.

 


Este dado não é coincidência: resulta de um racismo estrutural corporativo que impede mulheres negras de ocuparem espaços de poder. No mundo empresarial, seus rostos são raramente associados à liderança, mas estão, em proporção maior, nas estatísticas do desemprego. No último trimestre de 2023, a taxa de desocupação das mulheres negras foi de 9,2%, contra uma média nacional de 7,4%, segundo a Agência Brasil.

 


É incompetência ou falta de compromisso real com a equidade? Em um país com histórico escravocrata, as marcas desse passado seguem determinando quem lidera e quem serve. A imagem da mulher negra como “forte” é usada para justificar sobrecarga, subemprego e salários menores, mas não para abrir portas de comando em corporações bilionárias.]

 


Por trás do rótulo de força, existe uma estratégia cruel: explorar até o limite e perpetuar, sob novas formas, o ciclo da escravidão. Garantir igualdade real de oportunidades e reconhecer o papel das mulheres negras não apenas como mão de obra explorada, mas como líderes capazes de transformar o mundo do trabalho.