Quando a infância dá lugar à maternidade

O cenário é mais preocupante no interior, em regiões isoladas e comunidades indígenas, onde a falta de informação e o acesso precário à saúde e à educação tornam a gravidez infantil mais frequente.

Por Julia Portela

Todos os dias, 57 meninas entre 10 e 14 anos tornam-se mães no Brasil. O dado, alarmante, é do levantamento do Instituto AzMina para o projeto Meninas Mães. Em 10 anos (2014/2023) foram realizados 204.974 partos nessa faixa etária, segundo dados do DataSUS.

 


O cenário é mais preocupante no interior, em regiões isoladas e comunidades indígenas, onde a falta de informação e o acesso precário à saúde e à educação tornam a gravidez infantil mais frequente. Muitas dessas meninas enfrentam violações e dificuldades antes da gestação, o que revela que o problema não começa na maternidade, mas na ausência de redes de proteção efetivas.

 


Para piorar, a maioria dos profissionais de saúde em áreas afastadas sequer conhece os protocolos para aborto legal em casos de violência sexual. Pela lei brasileira, qualquer relação sexual com menores de 14 anos é considerada estupro de vulnerável. No entanto, o conhecimento da proteção legal é limitado, e a sociedade, muitas vezes, trata a gravidez precoce como “escolha individual”, ignorando contextos de desigualdade e vulnerabilidade.