O agro é escravocrata

A normalização do trabalho escravo é o reflexo mais brutal da desigualdade brasileira. Cada pessoa resgatada é a prova de que a democracia ainda não chegou a todos. Combater a prática não é apenas tarefa de fiscais, mas compromisso coletivo de romper com a cultura da exploração, do racismo e da impunidade.

Por Camilly Oliveira

A nova atualização da lista suja do trabalho escravo expõe uma ferida que o Brasil insiste em esconder. São 159 empregadores flagrados explorando 1.530 pessoas em condições degradantes, a maioria na zona rural, em fazendas de gado, lavouras de café e carvoarias. O aumento de 20% nas autuações em relação à lista anterior mostra que o país ainda convive com práticas coloniais travestidas de modernidade. 

 


Criada em 2003, durante o primeiro governo Lula, a lista é símbolo da luta contra a escravidão contemporânea. Enfrentou censura e ataques de quem se incomoda com a transparência, mas segue firme como instrumento de denúncia e justiça. O mapa das violações mostra que o problema é nacional: Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Bahia estão entre os estados com maior número de casos. Não se trata de um desvio isolado, mas de um sistema que se sustenta na lógica do lucro acima da vida.

 


A normalização do trabalho escravo é o reflexo mais brutal da desigualdade brasileira. Cada pessoa resgatada é a prova de que a democracia ainda não chegou a todos. Combater a prática não é apenas tarefa de fiscais, mas compromisso coletivo de romper com a cultura da exploração, do racismo e da impunidade.