Nos limites da mente

O número de afastamentos por questões emocionais deu um salto alarmante no Brasil: de 283 mil em 2023 para mais de 472 mil no ano passado, segundo dados do INSS. O crescimento de 67% em apenas um ano não é por acaso, mas sim resultado direto de um modelo de gestão baseado na pressão constante, metas abusivas e desrespeito à saúde mental dos trabalhadores.

Por Julia Portela

O número de afastamentos por questões emocionais deu um salto alarmante no Brasil: de 283 mil em 2023 para mais de 472 mil no ano passado, segundo dados do INSS. O crescimento de 67% em apenas um ano não é por acaso, mas sim resultado direto de um modelo de gestão baseado na pressão constante, metas abusivas e desrespeito à saúde mental dos trabalhadores.

 

Diante da crise, empresas tentam disfarçar o problema com programas de psicoeducação e treinamentos voltados para habilidades socioemocionais. Embora essas ações possam ser positivas, sozinhas não enfrentam as verdadeiras causas do adoecimento: jornadas exaustivas, sobrecarga, cobrança por desempenho e insegurança no ambiente de trabalho.

 

É ilusório acreditar que palestras motivacionais e dinâmicas de grupo resolverão um problema estrutural. Sem mudança na lógica de gestão, comunicação clara, redução da pressão por metas inalcançáveis e valorização concreta dos trabalhadores com salários justos e respeito, esses programas não passam de  maquiagem sobre a exploração.

 

Treinamento sem mudança nas condições de trabalho é como enxugar gelo. Enquanto o lucro for colocado acima da vida, afastamentos continuarão a crescer e histórias de sofrimento seguirão se acumulando nas estatísticas. O que está em jogo é a saúde de quem sustenta o funcionamento das empresas, inclusive dos bancos, onde o adoecimento psíquico atinge níveis alarmantes.