Desigualdade educacional: a herança do abandono escolar
A juventude brasileira foi empurrada à margem por políticas que apostaram na precarização, desmontaram programas de inclusão e fecharam portas para quem mais precisava da escola como instrumento de transformação social.
Por Julia Portela
A taxa de conclusão do Ensino Médio no Brasil tem avançado, passando de 54,5% em 2015 para 74,3% em 2025. Apesar disso, o dado ainda escancara o legado de descaso e desmonte herdado de políticas anteriores que, durante anos, trataram a educação como gasta e não como investimento. O contraste com o Ensino Fundamental é evidente: o índice de conclusão até os 16 anos saltou de 74,7% para 88,6%, segundo estudo do Instituto Todos Pela Educação com base em dados da PNAD Contínua e do IBGE.
Mesmo com progressos recentes, 1 em cada 4 jovens ainda não conclui o Ensino Médio até os 19 anos. Esse número reflete as marcas de uma estrutura educacional fragilizada por décadas de negligência e cortes de recursos. A juventude brasileira foi empurrada à margem por políticas que apostaram na precarização, desmontaram programas de inclusão e fecharam portas para quem mais precisava da escola como instrumento de transformação social.
O Ensino Médio, tornado obrigatório apenas a partir de 2009, sofreu anos de abandono durante a sua implementação. Sem planejamento consistente, o país assistiu à ampliação das desigualdades educacionais. A falta de infraestrutura, o sucateamento das escolas públicas e a ausência de políticas de permanência criaram um cenário em que muitos estudantes acumulam defasagens e abandonam os estudos antes da conclusão.
Os jovens que chegam ao Ensino Médio o fazem, muitas vezes, carregando lacunas provocadas por um sistema que não os amparou desde o início. Reprovações sucessivas, atraso escolar e falta de apoio pedagógico são consequências diretas de um projeto de Estado que, em determinado período, optou por priorizar o lucro e o corte de direitos em vez da garantia de uma educação pública de qualidade.
A superação desse quadro exige reconstrução. É necessário reparar os danos de uma política que tratou a educação como mercadoria e o estudante como estatística. Garantir o direito de aprender e concluir a escola é um passo essencial para romper com o passado de desigualdade e afirmar a educação como ferramenta de emancipação e justiça social.
