Infância blindada da indústria

As cantinas se tornaram vitrines para moldar hábitos desde cedo e garantir consumidores permanentes. A consequência aparece nas estatísticas: obesidade aumentando, doenças precoces se multiplicando.

Por Julia Portela

A presença de alimentos ultraprocessados nas escolas segue sendo um dos símbolos mais perversos da influência da indústria sobre a vida de crianças e adolescentes. Pesquisa do Idec mostra que a simples proibição desses produtos nas cantinas poderia reduzir em cerca de 13% a prevalência de obesidade entre estudantes de 10 a 19 anos. O dado revela o óbvio: quando a saúde é prioridade, a lógica do lucro perde espaço.

 


O estudo aponta que a retirada de bebidas adoçadas e ultraprocessados das escolas reduziria em até 25% o consumo de refrigerantes e sucos artificiais, além de diminuir em 8% a ingestão de guloseimas e salgadinhos. Em contrapartida, cresce o consumo de água, sucos naturais e frutas. São resultados que desmontam a indústria, que empurra produtos baratos, viciantes e altamente rentáveis.

 


A ofensiva dos grupos alimentícios sobre o ambiente escolar nunca foi inocente. As cantinas se tornaram vitrines para moldar hábitos desde cedo e garantir consumidores permanentes. A consequência aparece nas estatísticas: obesidade aumentando, doenças precoces se multiplicando.

 


A proibição dos ultraprocessados nas escolas é mais do que uma medida sanitária, é um enfrentamento ao modelo que transforma direitos básicos em oportunidades de negócio. A saúde pública não pode continuar subordinada à propaganda e ao faturamento de empresas que tratam crianças como dinheiro.