Brasil afunda em desperdício de água
O prejuízo vai além do financeiro: rios são pressionados, ecossistemas sofrem e a demanda por captação cresce de forma insustentável.
Por Julia Portela
O colapso do sistema de abastecimento brasileiro não está no futuro, já acontece diariamente, diante da incapacidade do Estado de proteger um recurso essencial à vida. Todos os dias, o país perde o equivalente a 6.346 piscinas olímpicas de água tratada antes que o recurso chegue às casas da população, segundo o Estudo de Perdas de Água 2025, do Instituto Trata Brasil em parceria com a GO Associados.
As perdas totais chegam a 40,31% de toda a água produzida, índice muito acima da meta de 25% estabelecida pela Portaria 490/2021, do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional. As perdas físicas, em grande parte provocadas por vazamentos, ultrapassam 3 bilhões de metros cúbicos por ano, volume capaz de abastecer 17,2 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade por quase dois anos.
O desperdício é consequência de infraestrutura sucateada, falhas de gestão, erros de medição e consumos irregulares, consequências diretas de décadas de abandono e de políticas que tratam água como mercadoria, não como direito. O prejuízo vai além do financeiro: rios são pressionados, ecossistemas sofrem e a demanda por captação cresce de forma insustentável.
O quadro se agrava quando se observa que 34 milhões de brasileiros ainda vivem sem acesso à água tratada, segundo o Instituto Trata Brasil, um retrato perverso da desigualdade hídrica que atinge principalmente comunidades pobres e periféricas.
Superar esse cenário exige políticas públicas fortes, investimento estatal contínuo e comprometimento real com o direito humano à água, rompendo com o desmonte e recolocando o interesse coletivo acima do lucro.
