IA, desemprego e desigualdade: os alertas da 27ª Conferência dos Bancários
A 27ª Conferência dos Bancários da Bahia e Sergipe, que acontece desde sexta-feira em Salvador e segue até domingo, trouxe no sábado à tarde uma discussão sobre o impacto da IA no mundo do trabalho. Com auditório cheio, o pesquisador e professor Leandro Andrade, doutor em Ciência da Computação pela UFBA, conduziu a palestra “Inteligência Artificial e os Limites do Trabalho” com crítica social e um alerta direto: “A tecnologia não é maldosa, mas os detentores dela sim, que são eurocêntricos, dentro de um contexto racista”.
Por Camilly Oliveira
A 27ª Conferência dos Bancários da Bahia e Sergipe, que acontece desde sexta-feira em Salvador e segue até domingo, trouxe no sábado à tarde uma discussão sobre o impacto da IA no mundo do trabalho. Com auditório cheio, o pesquisador e professor Leandro Andrade, doutor em Ciência da Computação pela UFBA, conduziu a palestra “Inteligência Artificial e os Limites do Trabalho” com crítica social e um alerta direto: “A tecnologia não é maldosa, mas os detentores dela sim, que são eurocêntricos, dentro de um contexto racista”.
O professor Leandro foi direto ao ponto: “A IA simula a resolução de problemas, não pensa como um humano. Ela nunca age fora do padrão de dados que absorveu. Não pensa fora da caixa”. Para ele, a Inteligência Artificial Generativa acelera tarefas e apoia processos criativos, mas tem limitações graves. “A qualidade das respostas depende da qualidade das perguntas. Não existe mágica. E mesmo o que parece empatia, como a chamada IA emocional, é só mais uma maquiagem para substituir pessoas reais no atendimento”.
Segundo ele, a ideia de que a IA vai substituir humanos é uma ilusão: “O ChatGPT pode escrever um poema de amor que emocione alguém, mas nunca chorará lendo um. E isto faz toda a diferença”.
A crítica também se entendeu as instituições financeiras, que enquanto lucram alto, cortam empregos e transferem funções para algoritmos. Segundo levantamento da Bloomberg Intelligence, os grandes bancos do mundo planejam demitir 200 mil trabalhadores nos próximos anos. A Bain & Company mostra que 67% das empresas brasileiras já priorizam a IA em 2025.
Um em cada quatro empregos está sob risco, segundo a OIT. E o Citigroup aponta que 54% das funções bancárias podem ser automatizadas. Em nome da eficiência, os bancos tem promovido uma substituição silenciosa dos trabalhadores por sistemas que imitam empatia, mas servem ao lucro.
No final da palestra foi apontada a a precarização crescente do trabalho. “Temos visto o surgimento do microtrabalho, necessário para o funcionamento das IAs, mas que ninguém quer discutir. É a exploração invisível, sem direitos. É por isto que precisamos regulamentar com urgência”.
A conferência continua durante a tarde deste sábado e no domingo, com debates sobre organização sindical, saúde mental e o enfrentamento das ameaças tecnológicas ao emprego. A IA pode até ser o futuro, mas, como ficou claro no debate, o futuro do trabalho precisa ser construído com dignidade, direitos e protagonismo da classe trabalhadora.