Envelhecer e a luta por sobrevivência

A ocupação de idosos poderia representar inclusão e reconhecimento, mas o cenário atual expõe necessidade, não escolha.

Por Julia Portela

O Brasil registrou, ano passado, o maior nível de ocupação entre pessoas com 60 anos ou mais desde 2012, quando 8,3 milhões de idosos estavam trabalhando. Entre os 34,1 milhões desta faixa etária, quase um quarto (24,4%) permaneceu ativo no mercado. O número, embora apresentado como avanço, revela a face mais dura da desigualdade: a permanência forçada de uma população vulnerabilizada pelo etarismo e pelas condições excludentes do mercado de trabalho.

 

 

O aumento no contingente de idosos ocupados não ocorre porque há mais oportunidades dignas, mas porque o país aprofundou medidas que empurram a classe trabalhadora a prolongar a vida de trabalho. A reforma da Previdência segue como um dos principais fatores que obrigam trabalhadores a permanecerem por mais tempo em atividade, elevando exigências de contribuição e adiando o acesso ao direito de se aposentar, conquista histórica, hoje restringida pela agenda ultraliberal.

 

 

Enquanto isto, o etarismo continua marcando profundamente o ambiente de trabalho. Empresas descartam trabalhadores mais velhos, negam oportunidades de requalificação e reforçam um sistema que valoriza apenas a lógica produtivista, ignorando décadas de experiência acumulada por esta população. Ainda assim, milhões seguem ocupados, muitas vezes em postos mais precários e com rendimentos menores, para garantir o básico.

 

 

A ocupação de idosos poderia representar inclusão e reconhecimento, mas o cenário atual expõe necessidade, não escolha. O país envelhece sem políticas públicas suficientes que assegurem aposentadoria justa, trabalho digno e proteção social. Coloca-se sobre os ombros dos mais velhos o peso de compensar, com esforço individual, falhas estruturais provocadas por decisões políticas que aprofundam as desigualdades.