Salvador: entre o paraíso turístico e a sobrevivência à bala
Salvador vive uma guerra social silenciosa. Enquanto elites mantêm seus condomínios protegidos, a cidade de verdade sangra nos becos, nas filas dos postos e em vielas onde se negocia o que comer no dia seguinte. Quem governa precisa escolher de que lado está: se com a cidade turística ou com o povo.
Por Camilly Oliveira
Viver com dignidade em Salvador virou um ato de resistência. Longe do cartão-postal vendido aos turistas, a capital baiana afunda em desigualdade, com comunidades inteiras lutando para manter um mínimo de estrutura. Em bairros como Sussuarana, Nordeste de Amaralina, ou Águas Claras, o poder público se ausenta, mas a cobrança é diária: comida cara, aluguel impossível, tarifa de ônibus abusiva. Para quem nasce nestes lugares, a cidade se fecha em muros invisíveis, e, na maioria das vezes, intransponíveis.
Segundo o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), a cesta básica na cidade ultrapassa R$ 690,00 enquanto o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o salário médio segue travado em R$ 2.200,00. Com este valor, alguns não conseguem sequer pagar aluguel em bairros periféricos com estrutura mínima.
Em contraste, o metro quadrado no Corredor da Vitória passa dos R$ 13 mil, consolidando uma Salvador para poucos. Enquanto isto, a maioria aperta contas, foge do aluguel e aceita qualquer bico para não afundar. O desemprego é cruel, mas a informalidade é a armadilha. Mais da metade da população economicamente ativa da cidade sobrevive sem vínculo formal, segundo a PNAD Contínua.
Jovens negros, em sua maioria, estão entre os mais afetados, empurrados para o subemprego ou para o tráfico. O racismo estrutural desenha o mapa da exclusão e distribui as balas perdidas com precisão cirúrgica. Segurança pública se resume a operações violentas, nunca a políticas de cuidado.
Salvador vive uma guerra social silenciosa. Enquanto elites mantêm seus condomínios protegidos, a cidade de verdade sangra nos becos, nas filas dos postos e em vielas onde se negocia o que comer no dia seguinte. Quem governa precisa escolher de que lado está: se com a cidade turística ou com o povo.