Guerra Civil
No artigo, o diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ, Álvaro Gomes, mais uma vez aborda os casos de mortes decorrentes de operação policiais, que alegam ser o assassinato de bandidos, mas stra corpos negros, pobres, jovens e até crianças.
Recentemente dezenas de mortes ocorreram a partir de operações policiais principalmente nos estados da Bahia, Rio de Janeiro e São Paulo, até 02/08/23 já eram 45 pessoas. No Rio de Janeiro até final de julho já tinha sido mapeadas 33 chacinas com 125 mortos entre as quais 20 durante operações policiais com 83 mortes (Jornal do Brasil,02/08/23). Sob o discurso de que foram mortos bandidos, a realidade mostra corpos negros, pobres, jovens e até crianças como o caso de Eloá.
Eloá uma criança de 5 anos, foi atingida com uma bala no sábado dia 12/08/23 enquanto brincava dentro de casa no Rio de Janeiro, já é a 15º criança que morre vítima de arma de fogo nos últimos dois anos no estado (Uol,12/08/23). Vivemos uma verdadeira guerra civil como sustenta o escritor Luís Mir em seu livro Guerra Civil, Estado e Trauma. São milhares de mortos todos os anos no país, só nos últimos 10 anos, de 2013 a 2022, foram 551.455 assassinatos.
Cabe aqui uma pergunta. Quem são as vítimas desse genocídio? Ao analisar o resultado dessa barbárie, encontra-se corpos negros jovens e pobres e os responsáveis por esta guerra desfrutando de prestígio social. No sistema neoliberal em que vivemos eles jamais serão atingidos, continuarão livres e considerados cidadãos de bem, e parte considerável da sociedade validando o discurso de que “bandido bom é bandido morto”.
Em nome de combate à criminalidade, milhares são mortos em verdadeiras execuções, mesmo sendo proibida a pena de morte no Brasil. No emaranhado das milicias e grupos criminosos, os verdadeiros chefes ficam intocáveis. Segundo Luis Mir, o crime organizado, seu crescimento e operacionalidade estão determinados na relação Estado-sociedade, que representa uma intensa articulação entre os grupos criminosos e os agentes do estado.
A população pobre precisa de emprego, renda, saúde, educação e se livrar das profundas desigualdades sociais. A Constituição lhes assegura estes direitos, mas infelizmente vivemos numa guerra onde na prática só os desvalidos tombam na invisibilidade ou muitas vezes sob aplauso de parte da sociedade, influenciada por uma cultura escravocrata e punitivista, alimentada pelos grandes meios de comunicação e também pelas mais variadas fake News. Essa guerra não pode continuar sendo naturalizada, ela precisa acabar.
*Álvaro Gomes é diretor do Sindicato dos Bancários da Bahia e presidente do IAPAZ